ALENTEJO

AGORA NINGUÉM PODE TOCAR
NA PLANÍCIE
O Poeta Nu, Jorge de Sousa Braga
Minha doença,
felizmente,
é muito miracurável
Mia Couto in Raíz de Orvalho e outros poemas
A mais pequena sabedoria,
uma paragem em que o tempo
continua,
e o mundo hipotético
e a moralidade
são um debate
que ninguém pressente
no segundo em que o cubo
de açucar
mergulha no café.
Pedro Mexia in Duplo Império
Percebi que quanto mais lia - e eu sou sobretudo um leitor - mais se transformava o mundo à minha volta, e o modo como eu o via, o tocava, o cheirava, o sentia e entendia. Mas não foi só o mundo que foi mudando ao sabor de cada livro. Também eu me ia conhecendo melhor. com os livros, e com alguns leitores, aprendi a desenvolver as minhas capacidades e a minimizar os meus defeitos. Essas vozes que subiam de tom ao virar de cada página traziam pensamentos, sentimentos, conhecimentos, actos, uns a todos comuns, outros que eu idealizava, outros ainda, que se instalavam no íntimo e que por vezes faziam revolver as entranhas, porque nunca é passiva a aprendizagem quando nos envolvemos. (...) Começaram por me dizer que os livros continham histórias. E é o que normalmente começam por nos dizer. Estava eu então longe de imaginar que nessas histórias havia irmãos, amigos, amantes, mestres, toda uma plêiade que ainda mal conheço. E o segredo de os conhecer. É esta a minha verdade. Todo o conhecimento é progressivo. Mantenho tudo o que disse.