(…) dói-me a distante lembrança
Do teu vestido
Caindo aos nossos pés (…)
Em Saudade
Despedida
Aves marinhas soltaram-se dos meus dedos
Quando anunciaste a despedida
E eu que habitara lugares secretos
E me embriagara com os teus gestos
Recolhi as palavras vagabundas
Como a tempestade que engole os barcos
Porque ama os pescadores
Impossível separarmo-nos
Agora que gravaste o teu sabor
Sobre o súbito
E infinito parto do tempo
Por isso te toco
No grão e na erva
E na poeira da luz clara
A minha mão
Reconhece a tua face de sal
E quando o mundo suspira
Exausto
E desfila entre mercados e ruas
Eu escuto sempre a voz que é tua
E que dos lábios
Se desprende e se recolhe
Ali onde se embriagam
Os corpos dos amantes
O teu ventre aceitou a gota inicial
E um novo habitante
Enroscou-se no segredo da tua carne
Nesse lugar
Encostámos os nossos lábios
À funda circulação do sangue
Porque me amavas
Eu acreditava ser todos os homens
Comandar o sentido das coisas
Afogar poentes
Despertar séculos à frente
E desenterrar o céu
Para com ele cobrir
Os teus seios de neve (Maio 77)
Mia Couto in Raiz de Orvalho e Outros Poemas
Poemas Inconjuntos
Aceita o universo
Como t’o deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.
Se há outras matérias e outros mundos
Haja.
[1-10-1917]
Alberto Caeiro in Poemas Completos de Alberto Caeiro
Os Livros
(…) Foi sobretudo a partir destes objectos cheios de folhas e letras, imagens, símbolos e outras linguagens escritas e desenhadas, mais finos ou mais grossos, maiores ou mais pequenos, mais bonitos ou mais feios, que tomei a consciência de que a realidade é muito mais do que aparenta ser, e com ela eu próprio e os meus semelhantes. Com os livros percebi que a realidade, sem os livros, é ignorância. (…)
Revista de ver e ler poesia nº 1 – Encontro Verso
Do teu vestido
Caindo aos nossos pés (…)
Em Saudade
Despedida
Aves marinhas soltaram-se dos meus dedos
Quando anunciaste a despedida
E eu que habitara lugares secretos
E me embriagara com os teus gestos
Recolhi as palavras vagabundas
Como a tempestade que engole os barcos
Porque ama os pescadores
Impossível separarmo-nos
Agora que gravaste o teu sabor
Sobre o súbito
E infinito parto do tempo
Por isso te toco
No grão e na erva
E na poeira da luz clara
A minha mão
Reconhece a tua face de sal
E quando o mundo suspira
Exausto
E desfila entre mercados e ruas
Eu escuto sempre a voz que é tua
E que dos lábios
Se desprende e se recolhe
Ali onde se embriagam
Os corpos dos amantes
O teu ventre aceitou a gota inicial
E um novo habitante
Enroscou-se no segredo da tua carne
Nesse lugar
Encostámos os nossos lábios
À funda circulação do sangue
Porque me amavas
Eu acreditava ser todos os homens
Comandar o sentido das coisas
Afogar poentes
Despertar séculos à frente
E desenterrar o céu
Para com ele cobrir
Os teus seios de neve (Maio 77)
Mia Couto in Raiz de Orvalho e Outros Poemas
Poemas Inconjuntos
Aceita o universo
Como t’o deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.
Se há outras matérias e outros mundos
Haja.
[1-10-1917]
Alberto Caeiro in Poemas Completos de Alberto Caeiro
Os Livros
(…) Foi sobretudo a partir destes objectos cheios de folhas e letras, imagens, símbolos e outras linguagens escritas e desenhadas, mais finos ou mais grossos, maiores ou mais pequenos, mais bonitos ou mais feios, que tomei a consciência de que a realidade é muito mais do que aparenta ser, e com ela eu próprio e os meus semelhantes. Com os livros percebi que a realidade, sem os livros, é ignorância. (…)
Revista de ver e ler poesia nº 1 – Encontro Verso
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