quinta-feira, julho 05, 2007

GÉNERO
A memória é o género que se atreve a dizer o seu próprio nome. A biografia diz-nos: «És o que imaginas.» A confissão diz-nos: «És o que fizeste.» Mas biografia, confissão ou romance requerem memória, pois a memória, diz Shakespeare, é a guardiã da mente. Uma guardiã, diria eu, que se radica no presente para olhar com uma face o passado e com a outra o futuro. A busca do tempo perdido também é, fatalmente, a busca do tempo desejado. Hoje, no presente deste ano terceiro do segundo milénio depois de Jesus, Gabriel García Márquez rememora. Aos que um dia lhe dirão: «Foste isto», «Fizeste isto» ou «Imaginaste isto», Gabo adianta-se e diz simplesmente: Sou, serei, imaginei. Recordo isto.
Carlos Fuentes in Gabo - Memórias da Memória (ácerca de G.G.Márquez)