segunda-feira, julho 02, 2007

DA CONTINUAÇÃO (referida)


chegou a hora romântica dso deuses nos pedirem a desobediência.
Faço-lhes a vontade. a partir de hoje, se alguém me quiser encontrar, procure-me entre o riso e a paixão. Aí aprendo a arte de escrever pior do que usava encorajando convulsões do sentimento que enlouquecem a bitola dos pigmeus da funcionalidade; no que folgo de algo fazer por reintegrar nestes contos e novela o herói a que a ficção renunciou fazendo a colecta dos casos que podem passar-se com qualquer um. Porque sendo o herói o indivíduo que encarna o que acontece aos outros, esse extraordinário da vida, sem o qual o existir é sujeição aos previlégios da idiotia, a novelística sem heróis, ainda que estilizada em ajardinado exercício literário, não passa de um perfume para disfarçar o mau cheiro do rebanho.
Admito ter falhado em transladar para estes escritos êxtases e intemperanças do sentimento que nos dão as últimas notícias do homem.
Não enjeito o fracasso. Ele é puramente romântico.
Natália Correia in A Ilha de Circe

O mistério do equipamento
Gosto de obras. se pudessse todos os dias tinha obras em casa. É uma forma de ter operários, de nos sentirmos bem com eles, de a gente se abrir às reparações e descansar.
Não gosto é do barulho das obras e por isso preveni os pedreiros que não fizessem barulho com berbequins durante a construcção, mesmo que a sua única obra viesse a ser o silêncio absoluto, o silêncio desprovido de quaisquer impactos ou perfurações.
Sugeri-lhes aliás que não fizessem várias obras, mas que fizessem uma única obra, como aquela que há entre o céu a terra, um horizonte, uma linha inacessível que dispensasse qualquer inauguração.
António Pocinho in Os pés frios dentro da cabeça