P L E N I T U D E § § § Rio da Vida

segunda-feira, julho 30, 2007

normal!?!

visto de perto ninguém é normal
Caetano Veloso

Pasolini contava que a sua primeira lembrança do cinema
se prendia a um cartaz: «a imagem de um tigre furioso devorando um homem, do qual o mínimo que posso dizer é que tinha o ar de sofrer maravilhosamente»

«Todas as mulheres que veneram a sombra do homem, no écran, ajudaram a matá-lo na sua carne» D. H. Lawrence

in O Bosque Sagrado - O cinema na poesia, de Jorge Sousa Braga et al.

Um problema de arte poética
É um destino complicado: ou és poeta ou
preferes o trabalho do romancista.
Ou te entregas ao diálogo, à descrição,
à narração pausada e medida
como um instrumento rigoroso,
ou te deixas tocar pelo silêncio.

4. Sonetos Irregulares
Só um ou dois dias depois te dás conta de que existe mesmo.
Preparas a casa como podes, acendes a lareira, a manhã
transporta-a consigo, uma e outra te completam. A tua vida
é já diferente mas só dois ou três dias depois começas a ter

saudades a todos os minutos. Gostarás de Bach? Há um quarteto
de mozart que prezas especialmente, mas nenhuma perfeição
é essencial diante do seu corpo tão precário. Sobreviverá
às vacinas, aos trabalhos escolares, a poesia devia falar disto,

precisamente, e mesmo assim seria pouco para descrever
o que acontece lá dentro, no coração. As palavras, claro não te
falam. Antes os nomes certos, isso sim - irá aprendê-los

de Janeiro para Janeiro, em passeios pela serra, aventuras
entre os pinhais, rente às cancelas das hortas, sob os pomares,
em alguns livros, se não te faltarem - como agora - as palavras.
in O Puro e o Impuro, de Francisco Josá Viegas

quinta-feira, julho 26, 2007

MÃE / ACÇÃO

Mãe
Digo-te, ao chegar, mãe,
que tu és como omar; que, embora as ondas
de teus anos variem e te mudem,
sempre é igual teu sítio,
ao passar minha alma.

Não é preciso medida
nem cálculo para assinalar
esse teu céu total;
a cor, hora única,
a luz de teu poente,
situam-te, oh mãe!, entre as ondas,
conhecida e eterna em seu mudar.

Acção
Não sei como dizê-lo,
pois não está feita ainda
minha palavra.
Antologia Poética de Juan Ramón Jimenez

Seres claros e bolidos de vento (sol)

E se alguma vez me
Vires nos teus sonhos
Sacode-me a terra ao coração

Abençoo-te para sempre
E é assim que morro, corajosa
E escrever um livro de
Amor sem chorar

Fazíamos corações às
Flores e estalávamos os
Dedos para os ritmar, pé
Ante pé atravessávamos os campos
Olhando para dentro
Das coisas só pelo lado de fora,
Tão capazes de ver

Até lá,
Fica comigo,
Surtidos pelos lugares
Enquanto o céu senta
O cu nas nossas cabeças
Valter Hugo Mãe, O resto da minha alegria

Estivemos ali no meio do maior enlevo
Toda a tarde, com um sol maravilhosos todo
Raiado de amarelos, lá em baixo a afundar-se no oceano. Era uma paisagem fantástica,
Parecia que alguém tinha vindo ali de
Propósito dourar o mundo!
Martz Inura, Um sonho secular

Incerteza, secura, silêncio, é nisso que tudo passará.

Que tenho de comum com os judeus? Só dificilmente tenho alguma coisa de comum comigo próprio e deveria manter-me muito quieto a um canto, contente por poder respirar.

Todas as culpas humanas são impaciência, uma ruptura prematura do esforço metódico: fixa-se sobre um suporte aparente o objecto aparente.
Franz Kafka , Antologia de páginas íntimas

quarta-feira, julho 25, 2007

animais lindos animais

bébes e deus!!!! ou viceversa ou o mesmo.







































Ateu Graças a Deus

Dizem-me: e a ciência? não procura reduzir o mistério que nos envolve por outras vias? Talvez. Mas a ciência não me interessa. Parece-me pretenciosa, analítica e superficial. Ignorava o sonho, o acaso, o riso, o sentimento e a contradição, tudo coisasa preciosas para mim.
Luís Bunuel in O meu último suspiro
Impressionante como
o mar
sempre atravessa e alarga
a minha vida
I n d i e

ARCADE FIRE

NÃO COSTUMO TIRAR APONTAMENTOS.
PORTANTO, SE ESTOU A CANTAR
ALGUMA COISA NO CHUVEIRO,
E AINDA ME LEMBRO DUAS
SEMANAS DEPOIS, É SINAL,
QUE É QUALQUER COISA
BOA.

DE UM ELEMENTO DO GRUPO MUSICAL - ARCADE FIRE

Há pessoas de ouro
Há pessoas de carro
Há pessoas de súbito
Há pessoas de susto
Há pessoas de olho
Há pessoas de verdade
Pessoas

s o l

terça-feira, julho 24, 2007

M U (S)

Cômamus
Bêbamus
e
Durmâmus
Para assim -
Pruspéramus...

Felix ?

De se juz de uma tamanha felicidade…

Derrrepente hoj fikei
Content
Mas verdadeiramente contente
Katé os panos todos das curtinas
Nus céus sorriram
Arcoíris
Aos molhos voados
Ao longo
Dos desejos
Sonhos
Empoleirando
Vontades
Duma
Felicidade
In
Ter
Mi

vel


navegantemente maravilíndia!

Também
Os tecidos
E
oLhos
Em
Incontáveis
Brilhos
Se
Punham
Á janela
Das
Aldeias
Mais
Puras
Do
Ser
E
Sua
Alma…


Onde
Corações
Generosos
E
Espíritos
Abertos
Com tapetes
Voadores
Nus
Corpus
Não
Faltavam…

A
Língua
-
Ah
Essa
Nem
Falar
Era
Só-
-Gesto

De sentir
Expressão
E beleza

S ó s o l 07

terça-feira, julho 10, 2007

Agarra a vida com unhas e dentes e mais umas espiritualizações k dão toda a festa...

São avc's atrás de avc's
Cancros de toda a espécie e feitío
Mazelas por de leite duns e desgraça de milhões
... mundialidades de abismos~
- o que não se fez
Não se evoluí
Não se conheceu
Não se foi

kinamos até ao mais do mais fundo
k podemos ver
ou há luz
E logo toda
Ou
Morremos
Acho...
Perdidos
Amplamente

Galáxias
Afrente
Na meia idade
Renascemos

Salvamos
Surpreendemos e mo-nos

De repente
o nosso melhor amigo
Cai pró lado com uma cena
Que ninguém sabe como se chama
Em 1 segundo

O que não se sentíu, pensou
Permitiu e fodeu
Ou amou e beijou
Como nunca

Azar

Disto fica:
Tou viva com o que sou
Com o que tenho
Com o que sinto
E sobretudo -
Com o que posso sentir
Porque olho;
Porque construo.
E o caminho é viver
Amanhando a terra
Semeada de alma
Coração
E pensamento
Sol de carro e biblioteca

segunda-feira, julho 09, 2007

S E R Á ?

Será que ainda me resta tempo contigo,
ou já te levam balas de um qualquer inimigo.
Será que soube dar-te tudo o que querias,
ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias.
Será que fiz tudo que podia fazer,
ou fui mais um cobarde,
não quis ver sofrer.Será que lá longe ainda o céu é azul,
já o negro cinzento confunde Norte com Sul.
Será que a tua pele ainda é macia,
ou é a mão que me treme,
sem ardor nem magia.
Será que ainda te posso valer,
ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer.
Será que é de febre este fogo,
este grito cruel que da lebre faz lobo.
Será que amanhã ainda existe para ti,
ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri.
Será que lá fora os carros passam ainda,
ou as estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda.
Será que a cidade ainda está como dantes
ou cantam fantasmas e bailam gigantes.
Será que o sol se põe do lado do mar,
ou a luz que me agarra é sombra de luar.
Será que as casas cantam e as pedras do chão,
ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão.
Será que sabes que hoje é Domingo,
ou os dias não passam, são anjos caindo.
Será que me consegues ouvir
ou é tempo que pedes quando tentas sorrir.
Será que sabes que te trago na voz,
que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós.
Será que te lembras da cor do olhar
quando juntos a noite não quer acabar.
Será que sentes esta mão que te agarra
que te prende com a força do mar contra a barra.
Será que consegues ouvir-me dizer
que te amo tanto quanto noutro dia qualquer.
Eu sei que tu estarás sempre por mim
Não há noite sem dia, nem dia sem fim.
Eu sei que me queres, e me amas também
me desejas agora como nunca ninguém.
Não partas então, não me deixes sozinho
Vou beijar o teu chão e chorar o caminho.
Será,Será,Será!
Pedro Abrunhosa

TODA A PALAVRA ANCORADA NO CORAÇÃO

COMO UMA ILHA
Tu és todos os livros,
Todos os mares,
Todos os rios,
Todos os lugares.
Todos os dias,
Todo o pensamento,
Todas as horas
O teu corpo no vento.
Tu és todos os sábados,
Todas as manhãs,
Toda a palavra
Ancorada nas mãos.
Tu és todos os lábios,
Todas as certezas,
Todos os beijos
Desejos, princesa.

Como uma ilha,
Sozinha...

Prende-me em ti,
Agarra-me ao chão,
Como barcos em terra
Como fogo na mão,
Como vou esquecer-te,
Como vou eu perder-te,
Se me prendes em ti,
Agarra-me ao chão,
Como barcos em terra,
Como fogo na mão,
Como vou eu lembrar-te
Se a metade que parte

É a metade que tens.
Tu és todas as noites
Em todos os quartos,
Todos os ventos
Em todos os barcos.
Todos os dias
Em toda a cidade,
Ruas que choram
Mulheres de verdade.
Tu és só o começo
De todos os fins,
Por isso eu te peço
Fica perto de mim.
Tu és todos os sons
De todo o silêncio,
Por isso eu te espero
Te quero e te penso.

Como uma ilha,
Sozinha...
PEDRO ABRUNHOSA

o mar as águas os ribeiros as cachoeiras os lágos : o paraíso aquático & marinho em nós

O mar, metade da minha alma é feita de maresia.

Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar

Debaixo d'água ficaria para sempre, ficaria contente, longe de toda a gente para sempre. No fundo do mar

Sophia de M. B. Andersen

Todo o cais é uma saudade de pedra
Fernando Pessoa

Perto de muita água tudo é feliz

O amor é sede depois de se ter bem bebido

João Guimarães Rosa

sábado, julho 07, 2007

ULTIMATUM COM BETHÂNIA PIRATA (NOITE 06-07 NÚ COLISEU DE LX)

















«Ultimatum»

Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora.
Fora tu, Anatole-France, Epicuro de farmacopeia-homeopática, ténia-Jaurès do
Ancien-Régime, salada de Renan-Flaubert em louça do século dezassete,
falsificada!
Fora tu, Maurice-Barrès, feminista da Acção, Chateaubriand de paredes nuas,
alcoviteiro de palco da pátria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos
outros, vestindo do seu comércio!
Fora tu, Bourget das almas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de
tampa de brasão, reles snob plebeu, sublinhando a régua de lascas os
mandamentos da lei da Igreja!
Fora tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas,
épico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da
baixa imortalidade!
Fora! Fora!
Fora tu, George-Bernard-Shaw, vegetariano do paradoxo, charlatão da sinceridade,
tumor frio do ibsenismo, arranjista da intelectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de
ti próprio, Irish-Melody calvinista com letra da Origem-das-Espécies!
Fora tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, saca-rolhas de papelão para a garrafa da
Complexidade!
Fora tu, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de
cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialéctica cockney com o horror ao sabão
influindo na limpeza dos raciocínios!
Fora tu, Yeats da céltica-bruma à roda de poste sem indicações, saco de podres
que veio à praia do naufrágio do simbolismo inglês!
Fora! Fora!
Fora tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em caracteres gregos, «D. Juan em
Pathmos» (solo de trombone)!
E tu, Maeterlinck, fogão do Mistério apagado!
E tu Loti, sopa salgada fria!
E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!
Fora! Fora! Fora!
E se houver outros que faltem, procurem-nos por aí pra um canto!
Tirem isso tudo da minha frente!
Fora com isso tudo! Fora!
Ai! que fazes tu na celebridade, Guilherme-Segundo da Alemanha, canhoto maneta
do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!
Quem és tu, tu da juba socialista, David-Lloyd-George, bobo de barrete frígio feito
de Union Jacks?!
E tu, Venizelos, fatia de Péricles com manteiga, caída no chão de manteiga para
baixo?
E tu, qualquer outro, todos os outros, açorda Briand-Dato. Boselli da incompetência
ante os factos todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da
guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem
intelectual!
E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados para
baixo à porta da Insuficiência da Época!
Tirem isso tudo da minha frente!
Arranjem feixes de palha e ponham-nos a fingir gente que seja outra!
Tudo daqui para fora! Tudo daqui para fora!
Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!
Senão querem sair, fiquem e lavem-se.
Falência geral de tudo por causa de todos!
Falência geral de todos por causa de tudo!
Falência dos povos e dos destinos — falência total!
Desfile das nações para o meu Desprezo!
Tu, ambição italiana, cão de colo chamado César!
Tu, «esforço francês», galo depenado com a pele pintada de penas! (Não lhe dêem
muita corda senão parte-se!)
Tu, organização britânica, com Kitchener no fundo do mar mesmo desde o princípio
da guerra!
(It 's a long, long way to Tipperary and a jolly sight longer way to Berlin!)
Tu, cultura alemã, Esparta podre com azeite de cristismo e vinagre de
nietzschização, colmeia de lata, transbordamento imperialóide de servilismo
engatado!
Tu, Áustria-súbdita, mistura de sub-raças, batente de porta tipo K!
Tu, Von Bélgica, heróica à força, limpa a mão à parede que foste!
Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque
se partiu!
Tu, «imperialismo» espanhol, salero em política, com toureiros de sambenito nas
almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos!
Tu, Estados Unidos da América, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da açorda
transatlântica nasal do modernismo inestético!
E tu, Portugal-centavos, resto da Monarquia a apodrecer República, extremaunção-
enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com vergonhas
naturais em África!
E tu, Brasil, «república irmã», blague de Pedro-Álvares-Cabral, que nem te queria
descobrir!
Ponham-me um pano por cima de tudo isso!
Fechem-me isso à chave e deitem a chave fora!
Onde estão os antigos, as forças, os homens, os guias, os guardas?
Vão aos cemitérios, que hoje são só nomes nas lápides!
Agora a filosofia é o ter morrido Fouillée!
Agora a arte é o ter ficado Rodin!
Agora a literatura é Barrès significar!
Agora a crítica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!
Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!
Agora a religião é o catolicismo militante dos taberneiros da fé, o entusiasmo
cozinha-francesa dos Maurras de razão-descascada, é a espectaculite dos
pragmatistas cristãos, dos intuicionistas católicos, dos ritualistas nirvânicos,
angariadores de anúncios para Deus!
Agora é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!
Sufoco de ter só isto à minha volta!
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas!
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo!
-
ÁLVARO DE CAMPOS
Revista "Portugal Futurista", N.º 1 e único, Novembro de 1917, páginas 30-34;

quinta-feira, julho 05, 2007

o mistério do exterior
Depois de ter visto homens nascerem de mulheres.
e até de de barcos, chegara o dia de ver nascer um país.
Portugal prepara-se com uma solução de 25% de fenolpatriamida
e uma motorizada casal. Se for à noite deve juntar-se vinho.
À parte aquele costume de não se poder juntar trabalho com conhaque
ou trabalhos com bugalhos. Portugal é em quase tudo um país-diospiro.
Digo isto, não por Portugal, um frut que felizmente ainda tem bicho,
mas porque gosto de diospiros. Falo, não de Portugal, mas de diospiros,
um dos frutos onde nasci. Só quem é rigorosamente limitado
é que nasce num país, numa terra, numa única maçã,
com todas as maçãs que há onde nascer.
António Pocinho

talvez ser feliz
seja a única verdade
que valha
a pena
V I V E R
de um autor sul americano...

GÉNERO
A memória é o género que se atreve a dizer o seu próprio nome. A biografia diz-nos: «És o que imaginas.» A confissão diz-nos: «És o que fizeste.» Mas biografia, confissão ou romance requerem memória, pois a memória, diz Shakespeare, é a guardiã da mente. Uma guardiã, diria eu, que se radica no presente para olhar com uma face o passado e com a outra o futuro. A busca do tempo perdido também é, fatalmente, a busca do tempo desejado. Hoje, no presente deste ano terceiro do segundo milénio depois de Jesus, Gabriel García Márquez rememora. Aos que um dia lhe dirão: «Foste isto», «Fizeste isto» ou «Imaginaste isto», Gabo adianta-se e diz simplesmente: Sou, serei, imaginei. Recordo isto.
Carlos Fuentes in Gabo - Memórias da Memória (ácerca de G.G.Márquez)

quarta-feira, julho 04, 2007

impressões dexpressão e adiante

-o sítio mais íntimo que trazemos
-verão de amor sobre uma praia

HINO
É para ti
que crio os hinos
e os oceanos
a persistência opaca
da noite
o vício das árvores

os cabelos pretos
que desprendo
são para ti que invento
entre o instinto
roxo
dos teus lábios

É para ti que crio
o orvalho branco
dos meus espasmos
onde tu és deus
e eu apenas nua
de te dar o líquido instinto das
gargantas

como os meus seios auqueados
lua

SEGREDO
Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar
Maria Teresa Horta in Minha Senhora de Mim

Amanhã é o dia em que a noite abraça
a eternidade de todos os futuros e afins denleantes madrugadas e mais...
divagadora jardinantando

segunda-feira, julho 02, 2007

DA CONTINUAÇÃO (referida)


chegou a hora romântica dso deuses nos pedirem a desobediência.
Faço-lhes a vontade. a partir de hoje, se alguém me quiser encontrar, procure-me entre o riso e a paixão. Aí aprendo a arte de escrever pior do que usava encorajando convulsões do sentimento que enlouquecem a bitola dos pigmeus da funcionalidade; no que folgo de algo fazer por reintegrar nestes contos e novela o herói a que a ficção renunciou fazendo a colecta dos casos que podem passar-se com qualquer um. Porque sendo o herói o indivíduo que encarna o que acontece aos outros, esse extraordinário da vida, sem o qual o existir é sujeição aos previlégios da idiotia, a novelística sem heróis, ainda que estilizada em ajardinado exercício literário, não passa de um perfume para disfarçar o mau cheiro do rebanho.
Admito ter falhado em transladar para estes escritos êxtases e intemperanças do sentimento que nos dão as últimas notícias do homem.
Não enjeito o fracasso. Ele é puramente romântico.
Natália Correia in A Ilha de Circe

O mistério do equipamento
Gosto de obras. se pudessse todos os dias tinha obras em casa. É uma forma de ter operários, de nos sentirmos bem com eles, de a gente se abrir às reparações e descansar.
Não gosto é do barulho das obras e por isso preveni os pedreiros que não fizessem barulho com berbequins durante a construcção, mesmo que a sua única obra viesse a ser o silêncio absoluto, o silêncio desprovido de quaisquer impactos ou perfurações.
Sugeri-lhes aliás que não fizessem várias obras, mas que fizessem uma única obra, como aquela que há entre o céu a terra, um horizonte, uma linha inacessível que dispensasse qualquer inauguração.
António Pocinho in Os pés frios dentro da cabeça






É este o problema: o fingimento e a representação. Ao sorrir enquanto se sente a chorar, estará a dividir-se em dois e a reprimir a verdade: tornou-se um impostor.
O impostor é apreciado pela sociedade. O impostor chega a santo e torna-se num grande líder. Todos o seguem porque ele representa o ideal.
in O Livro do Homem - As facetas do feminino de Osho